Batucamente: o ritmo que cura e fortalece.
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- 5 de nov.
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Atualizado: 6 de nov.
Por Paulo Lourenço

Entrevista conduzida pelo médico psiquiatra Dr. Rafael Ferli
Maraú (BA) – 17 de outubro de 2025
No CAPS de Maraú, um projeto tem feito da música um espaço de acolhimento, expressão e transformação. A Banda Batucamente, formada por usuários do serviço de saúde mental, mostra que ritmo, convivência e afeto podem ser tão importantes quanto o tratamento medicamentoso. Para compreender como essa iniciativa se tornou parte essencial da vida de tantas pessoas, o médico psiquiatra Dr. Rafael Ferli conduziu uma entrevista com Juliana Almeida, enfermeira e coordenadora do CAPS I.
Ao ser questionada sobre a origem do projeto, Juliana relembra:
“A ideia surgiu a partir de uma voluntária, Jéssica, que iniciou a banda com os usuários. No começo pegamos instrumentos emprestados e usamos materiais artesanais para complementar. Com o tempo, a escola da região fez a doação dos instrumentos e quando percebemos que o projeto estava crescendo, escolhemos o nome Batucamente.”
Quando Rafael pergunta se todos os usuários podem participar, Juliana responde:
“Todos que têm interesse são bem-vindos.”
Mas o impacto do projeto vai além das apresentações. Juliana explica que, no início, muitos integrantes apresentavam dificuldades de coordenação motora. Aos poucos, com os ensaios e os trabalhos artesanais, esse movimento ganhou fluidez, ritmo e autonomia:
“Eles foram evoluindo não apenas na banda, mas na vida de modo geral.”
Dr. Rafael, que presenciou uma das apresentações, destacou a importância dessa abordagem:

“A medicação é importante em determinadas situações, mas não podemos nos limitar aos psicofármacos.”
Além da Batucamente, o CAPS desenvolve oficinas de culinária, artesanato, rotas externas, relaxamento (meditação) e articula parcerias, como o uso da quadra da escola municipal. Juliana também planeja iniciar um projeto de educação sexual.
Ao falar sobre a equipe, ela reforça algo fundamental:
“Temos nossas profissões, mas também temos aptidões. A psicóloga trabalha com artesanato, a técnica de enfermagem lidera o projeto de miçangas, o oficineiro conduz o projeto da horta, e a psicopedagoga acompanha a aprendizagem. É importante entender que podemos desenvolver nossas habilidades junto com os usuários.”
Sobre recursos, Juliana é direta:
“Sempre precisamos de doações. Já fizemos jogos com materiais recicláveis, pedimos apoio da prefeitura e contamos com quem pode ajudar. Toda ajuda é bem-vinda.”
Dr. Rafael resume essa entrega em uma palavra: proatividade.
“Quando falamos de CAPS, falamos de cuidado que vai além do psicofármaco. E é lindo ver a dedicação de vocês.”
Ao final da conversa, ele pergunta como outros municípios podem criar iniciativas semelhantes.
Juliana responde:
“Ter um profissional da música ajuda, mas se não houver instrumentos, confeccionem. A união faz o projeto acontecer. Quando o município percebe o impacto, ele passa a apoiar.”
Reconhecimento e compromisso com quem cuida
A instituição recebeu o Selo de Compromisso com a Saúde Mental, concedido pela SMS – Saúde Mental Solidária. O reconhecimento reforça um dos objetivos centrais da plataforma: valorizar e cuidar de quem cuida.
Como parte da iniciativa, um funcionário ou gestor do CAPS participará, sem custos, do programa SMS + Psicologia, que oferece acompanhamento psicoterapêutico voltado ao bem-estar emocional de quem dedica sua vida ao cuidado do outro.
A Batucamente mostra que a arte não é apenas expressão; é cura.
Em Maraú, o ritmo virou voz, pertencimento e caminho de vida.
Que esse som ecoe e que outras cidades se inspirem.

A coordenadora do CAPS I de Maraú, Juliana Almeida, ao lado do médico psiquiatra Dr. Rafael Ferli e dos voluntários Jéssica e Daniel, durante visita ao projeto Batucamente.


